terça-feira, 18 de junho de 2013

UMA NOTA SOBRE AS JUVENTUDES NAS RUAS EXIGINDO REDUÇÃO DAS TARIFAS DE TRANSPORTE

As juventudes do Brasil em busca de serviço público de qualidade: pequenas anotações marginais

por Jorge Atilio Silva Iulianelli

Em várias capitais do País as juventudes estão nas ruas. A motivação primeira é o fato de haver um apreçamento das tarifas de transporte público, serviço prestado por empresas concessionárias do Estado, que, apesar de terem recebido diferentes isenções, resolveram as Prefeituras, instâncias político-administrativas responsáveis por este apreçamento, conceder aumentos de tarifa. O que há de mais relevante nesse processo? Certamente, seria uma ingenuidade avaliar que o Brasil não tem convivido com mobilizações de movimentos sociais. Em diferentes situações a sociedade brasileira, em diferentes parcelas, por interesses diferenciados, tem se organizado e mobilizado para reivindicar direitos. O equívoco em afirmar que a sociedade brasileira é, em geral, inerte é contumaz. E é um elemento tranquilizador das elites, que além de disseminarem uma visão quietista e acomodada da sociedade para o mundo, internamente gera a sensação de uma população despolitizada.

Há um outro equívoco. Há uma sociologia da juventude contemporânea que afirma ser essa juventude distinta daquela da década de 1960. Como diria Nelson Rodrigues, isto é o óbvio e ululante. Porém, por trás, e por dentro dessa afirmação, há um distintivo analítico: os jovens do passado eram militantes, os jovens atuais são ajustado à sociedade do consumo. Nada mais distante do que diferentes estudos sobre as juventudes brasileiras concluíram, ao menos nos últimos vinte anos. Primeiramente, conclui-se que os jovens atuais enfrentam desafios distintos: a emergência democrática, a pandemia da AIDS, o estado mínimo com seu controle social e obsessão pela violência nossa de cada dia... Uma agenda política que é diferente gera comportamentos diferentes. E, não menos relevante para a análise, essa é a juventude da janela estatística conhecida por onda jovem, ou seja, a curva demográfica tem sua conformação maciça entre os jovens de 15-24 anos de idade. Isso gera a necessidade de políticas públicas específicas para a juventude, gerou a formação de secretarias municipais, estaduais e federais da Juventude, dos Conselhos de Juventude, dentre outras instâncias públicas para discutir tais políticas.

Vale aqui registrar uma confluência. Essas juventudes, diversas, estão a buscar a qualidade na prestação de serviços. Seria interessante uma análise que comparasse, por exemplo, como estudantes de uma universidade privada, como a Gama Filho, reagiram aos processos de precarização dos processos de aprendizagem, que incluíam a precarização da condição de trabalho docente, com a atual reação ao processo de precarização da prestação de serviços de transporte público que a maioria dos jovens, em diferentes capitais do Brasil, às centenas de milhares, estão a reagir. Não tenho dúvidas que as similaridades são muitas. Destaco uma apenas: a exigência de serviços públicos prestados devidamente e regularizados pelos agentes estatais.

A lição dos processos, ao meu ver, é a profunda politização da luta popular das juventudes. Uma luta popular que quer prezar e preservar o comum, o que é de todos, o que é público. A educação, o transporte, podemos estender a lista, e ver como diferentes direitos fundamentais são todos públicos. E o que é público é de responsabilidade (dever) do Estado, mesmo que prestado por empresas concessionárias. A concessão não retira a obrigação do Estado, em suas diferentes instâncias, de regular a prestação do serviço. As juventudes se sabem cidadãs e querem cuidar para que o bem comum, a res publica (coisa pública, bens comuns), sejam devidamente preservados e socializados. Há um cansaço com os processos de privatização dos bens públicos. Se existem concessionárias, que elas prestem devidamente os serviços que lhes cabe prestar: é o que estão a gritar as manifestações públicas das juventudes nas ruas.

Seria uma ingenuidade política acreditar que o conjunto dessas manifestações não fosse apropriado por diferentes setores ideológicos da sociedade. A política é um campo de disputas de interesse. A grande novidade é o não-alinhamento das juventudes, sua articulações por meio das redes sociais, sua indignação com a prestação de serviços absolutamente à revelia dos direitos de cidadania do povo brasileiro. Se agrega às tarifas de transporte os custos sociais que os investimentos com os Megaeventos estão a cobrar do povo brasileiro, a insuficiência e inadequação que o Estado, em suas diferentes instâncias, têm na prestação de diferentes serviços essenciais. O belo dessa experiência é o aprofundamento da experiência democrática. É muito bem-vinda essa primavera juvenil brasileira. É um  sinal de saúde política, por mais que os analistas direitosos e obscurantistas queiram afirmar.


6 comentários:

  1. as flores desta primavera esta apenas a florescer!

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  2. Parabéns a juventude brasileira por não desistir de seus ideais. Sabemos que ainda falta muito, mas quem sabe esse não seja o primeiro passo para a grande revolução que esperamos.

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  3. Atílio, meu amigo!

    Parabéns pela reflexão. Estamos diante de um novo fenômeno! Vamos tentar entendê-lo, mas antes disso estou lá, participando!
    Um abraço,

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  4. Como não encontrei lugar apropriado vou postar aqui.
    Ontem 02/07 o professor disse que a unidade Candelária foi vendida e que seremos transferidos para outro prédio no Centro. Seria a unidade da Univercidade? Mesmo após essa transferência forçada corremos o risco de sermos transferidos novamente só que dessa vez para a Piedade, assim como foi com a unidade da Barra?
    Confio em vocês para obter essas respostas, pois ao contrário do Grupo Galileo vocês deixam o corpo discente a par das discussões e mudanças.

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  5. Próxima parada...

    Rua da Quitanda, 80

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  6. I - Ao contrário do padrão cultural identificado por Gilberto Freyre, herança da família patriarcal colonial, parece que nossa sociedade caminha a passos largos para a consolidação da democracia.

    II - Conforme afirma Benedict Anderson em "Comunidades Imaginadas", quando passamos a sentir vergonha dos excessos de desrespeito que ocorrem em uma nação, e passamos a exigir uma conduta ética, independentemente de qual paradigma falamos (virtude, máxima felicidade, imperativo categórico), estamos construindo de fato uma nação. Do ponto de vista político imaginamos uma nação onde bens e serviços, públicos e privados, sejam produzido, distribuído e consumidos coletivamente. Do ponto de vista antropológico, imaginamos uma nação onde valores ligados aos verdadeiros princípios dos direitos humanos sejam evidenciados, garantidos e ampliados.

    III - Não perdemos nossa capacidade de se indignar!!!

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